Nos últimos três meses, o mercado de criptomoedas experimentou uma recuperação significativa. As principais blockchains públicas voltaram aos holofotes, com o Ethereum liderando um retorno expressivo impulsionado tanto pela entrada de recursos via ETFs quanto pela compra de grandes empresas listadas. Solana, Sui, Hyperliquid e outras também registraram ganhos notáveis. Pelo comportamento dos preços, o mercado pode estar para vivenciar a tão aguardada temporada das altcoins. No entanto, o desempenho fundamental dessas blockchains públicas merece análise minuciosa.
Este artigo examina oito blockchains públicas de destaque — selecionadas por apresentarem alto TVL e grande repercussão no mercado — em cinco métricas essenciais ao longo dos últimos três meses: preço, TVL, fluxos de capital, atividade on-chain e desenvolvimento do ecossistema. Os dados abrangem o período de 20 de abril a 20 de julho.
O Ethereum apresentou avanços expressivos em todos os principais indicadores recentemente, acompanhando a expressiva escalada de preço. Nos últimos três meses, o ETH subiu de US$ 1.600 para mais de US$ 3.800 — um salto superior a 130%. Junto à valorização, o TVL do ecossistema Ethereum aumentou 61,34%, com entrada líquida de US$ 8,3 bilhões em capital on-chain, mantendo-se na liderança entre as blockchains públicas. Contudo, a maior parcela desse crescimento de TVL decorreu da valorização do próprio ETH. Em relação à quantidade de ETH retida, o total bloqueado no ecossistema diminuiu de 28,39 milhões em abril para cerca de 22,28 milhões — uma queda de 21%.
Na blockchain, os endereços ativos diários e o volume de transações cresceram 11,94% e 16%, respectivamente, nos últimos três meses — desempenho sólido, ainda que discreto. Os ETFs spot de Ethereum registraram cerca de US$ 5 bilhões de captação líquida nesse período. Diversas empresas americanas de capital aberto seguiram o exemplo da MicroStrategy e passaram a adotar ETH como ativo de reserva, estimulando o movimento comprador e fortalecendo o otimismo. De maneira geral, a alta do ETH parece ser predominantemente puxada por influxos de capital.
Diferentemente do Ethereum, o preço do SOL também disparou — de US$ 139 para uma máxima de US$ 189. Mas os dados do ecossistema sugerem cautela: Solana registrou saída líquida de US$ 112 milhões em capital on-chain nos três meses, e os endereços ativos diários caíram 14%. Emissores de stablecoins reduziram em US$ 1,5 bilhão o fornecimento.
O TVL subiu de US$ 7,3 bilhões para US$ 9,237 bilhões. Dentro do ecossistema Solana, a Pump.fun manteve-se como principal plataforma de negociações, movimentando impressionantes US$ 234 bilhões no último mês. Um dado surpreendente foi a chegada da OKX DEX ao top 10, com US$ 4,6 bilhões em volume mensal.
Quanto à emissão de memecoins, atualmente Solana registra cerca de 40.000–50.000 novos tokens lançados por dia, uma queda acentuada em relação aos 90.000–100.000 de janeiro. Apesar da retração, o ritmo segue estável, sem um colapso abrupto.
O índice de staking em Solana está em 66%, mas o número de validadores vem diminuindo — sinalizando que grandes validadores estão concentrando mais controle e desfavorecendo operadores menores.
A BSC demonstrou dinâmica quase oposta à da Solana. O preço do BNB subiu aproximadamente 30% em três meses — modesto, porém, os indicadores on-chain se destacaram. O número de endereços ativos diários saltou de 25,2 milhões para 44 milhões (alta de 74,6%), as transações diárias mais que dobraram de 7,85 milhões para 16,82 milhões (aumento de 114%) e o suprimento de stablecoins aumentou de US$ 7,12 bilhões para US$ 11 bilhões (crescimento de 55%). Esses picos provavelmente derivam do engajamento nas campanhas Alpha.
Apesar da expansão do uso, a BSC registrou saída líquida de US$ 950 milhões em três meses. O maior desafio agora é transformar esse pico de atividade em retenção de capital de longo prazo.
A Base também mostrou indicadores expressivos: o TVL saltou de US$ 2,4 bilhões para US$ 4 bilhões (aumento de 63%), enquanto endereços ativos diários cresceram de 15,6 milhões para 33,6 milhões (alta de 115%) e as transações diárias aumentaram 23%. Paradoxalmente, a Base registrou US$ 5,6 bilhões de saídas líquidas — a maior entre todas as blockchains públicas analisadas. A maior parte desse capital foi direcionada ao Ethereum, tornando a Base a maior fonte de influxo para a mainnet do Ethereum nesse intervalo.
A Base também implementou o Flashblocks, reduzindo o tempo de bloco de dois segundos para apenas 200 milissegundos, o que a torna a EVM mais rápida atualmente. Com o lançamento do Base App — plataforma de social e trading da Coinbase —, espera-se expansão acelerada do ecossistema.
Os principais indicadores da Arbitrum mantiveram estabilidade, com destaque para a alta de 34% no TVL e um aumento de 22% nas transações. O número de endereços ativos diários ficou estável em 4,6 milhões. Por outro lado, o ARB valorizou 66% — um dos melhores desempenhos entre as grandes blockchains públicas, provavelmente alavancado pelo avanço do Ethereum. A Arbitrum segue consolidada como segunda maior L2 do Ethereum.
O preço do SUI praticamente dobrou, passando de US$ 2,15 para US$ 4,24 (alta de 97%). Os dados corroboram o movimento: o TVL saltou de US$ 1,2 bilhão para US$ 2,2 bilhões (aumento de 84%) e a emissão de stablecoins ultrapassou US$ 1 bilhão. De maio a junho, os endereços ativos diários caíram de 1,5 milhão para 400 mil, mas voltaram a atingir 1 milhão no início de julho — ainda abaixo do pico anterior.
O Hyperliquid obteve a maior valorização entre as blockchains públicas, com seu token saltando de US$ 18 para US$ 49,90 e o market cap ultrapassando US$ 15 bilhões — chegando à 13ª posição global.
No on-chain, o TVL mais que triplicou de US$ 640 milhões para US$ 1,943 bilhão (aumento de 202%). A emissão de stablecoins subiu de US$ 2,1 bilhões para US$ 4,9 bilhões, colocando o Hyperliquid na quinta posição entre todas as chains. Após uma recente crise de confiança, o lucro do tesouro HLP alcançou nível recorde, superando US$ 68 milhões. Desde julho, o número diário de novos usuários voltou a ultrapassar a marca de 3.000.
Em comparação com outras grandes blockchains, a Aptos teve desempenho aquém do esperado. O preço subiu apenas 10% em três meses, enquanto TVL, fluxo de capital e endereços ativos diários caíram. Os destaques positivos ficaram por conta do acréscimo de 34% nas transações diárias e aumento de US$ 300 milhões na emissão de stablecoins. Em relação à Sui — também baseada na linguagem MOVE —, a Aptos ficou para trás nos principais indicadores.
Em síntese, os dados on-chain não acompanham a intensidade das altas dos tokens nesta fase de mercado. Sui, Hyperliquid e Base apresentaram ganhos efetivos, mas ainda inferiores às valorizações. Está evidente que os fluxos de capital estão liderando o crescimento dos ecossistemas nesta recuperação. Resta saber se essas altas de preço vão gerar real desenvolvimento do ecossistema, como nova onda de DeFi, games blockchain ou adoção no mundo real. A longo prazo, tudo indica que dados on-chain e fundamentos tendem a ser os principais motores das próximas valorizações.
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