Em 18 de julho, o presidente Trump sancionou oficialmente a Lei de Incentivo à Inovação em Geração de Novas Soluções (GENIUS Act), colocando as stablecoins (moedas estáveis) no centro das atenções globais. Após uma década de esforço dos pioneiros do blockchain e anos de debate oscilante na grande mídia, o tema finalmente se tornou mainstream. Praticamente da noite para o dia, as stablecoins viraram o assunto mais discutido entre setores da internet, círculos financeiros tradicionais e fóruns de políticas públicas. Esse movimento levou a uma reavaliação profunda sobre como a adoção em massa das moedas digitais pode afetar a internet, a IA, as finanças e até o cenário geopolítico e econômico global. Contudo, junto ao crescimento do interesse, uma onda de equívocos, desinformações e opiniões enganosas se espalhou — especialmente nas redes sociais — criando confusões persistentes. O problema de fundo é que a maior parte dos debates trata o tema de forma genérica, esquecendo que as stablecoins são resultado da inovação do blockchain e deixando de abordar sua lógica e aplicações técnicas. Para aprofundar essas questões, realizei uma nova conversa com o Dr. Xiao Feng sobre o tema.
Meng Yan: Dr. Xiao, desde a nossa última conversa, tudo avançou exatamente como esperávamos. A GENIUS Act foi aprovada e vejo um salto no interesse em stablecoins nas comunidades chinesas — quase a ponto de se tornar onipresente. Um amigo voltou de Hong Kong e me disse: “Todo mundo lá só fala de stablecoins. Nunca vi algo assim.” Como você mora em Hong Kong, deve estar sentindo isso ainda mais de perto.
Xiao Feng: É algo que não presenciávamos há muito tempo. Não se trata apenas de conversa, mas de ação concreta. Centenas de empresas e instituições estão se mobilizando para participar de projetos com stablecoin, e notícias sobre iniciativas relacionadas a RWA surgem todo dia. Recebemos uma enxurrada de pedidos de parceria. A GENIUS Act é relevante não só porque valida o status jurídico e a soberania das “stablecoins de dólar americano” no sistema legal dos EUA, mas também porque indica que blockchain e criptoativos estão deixando de ser “área nebulosa” regulatória e ingressando no núcleo da infraestrutura financeira tradicional — uma nova revolução está de fato em curso. Sendo Hong Kong um centro financeiro global, não surpreende sua sensibilidade diante dessa tendência.
Ao assistir esse movimento, fica claro que a história recompensa quem abraça e experimenta novas tecnologias de forma proativa. Momentos de transformação tecnológica sempre favorecem os ousados e otimistas.
Meng Yan: Ainda assim, vejo riscos preocupantes — o boom das stablecoins veio tão de repente que muitos não estavam preparados, e existe um gap real de conhecimento. Tem gente que ouviu falar de stablecoins há apenas três meses, tem uma compreensão superficial ou indireta, e já se apresenta como especialista nas redes sociais, espalhando opiniões — algumas, temo, francamente enganosas.
Xiao Feng: Também percebi a explosão de conteúdos autopublicados e entendo sua preocupação. Mas fico satisfeito em ver tanta discussão; a atenção pública era desejada há anos pelo setor. O mercado está entrando em uma nova era. Nos próximos anos, stablecoins, RWA, economias de tokens, integração cripto com ações e a fusão de cripto com IA tornarão o setor ainda mais vibrante e interessante.
Mas em tempos assim, é preciso manter a calma e reforçar os fundamentos. Pela minha experiência, quando “chega a primavera e esquenta”, ideias plausíveis porém erradas proliferam, e opiniões populares mas equivocadas viralizam, gerando risco. A mentalidade é fundamental — toda alta e queda nas criptos, cada tropeço do setor, cada oscilação de sentimento, quase sempre nasce de um erro conceitual básico.
A prioridade é ter uma visão realista sobre o cenário. Muitos acham que, porque os EUA aprovaram uma lei, cripto em Hong Kong ou até mesmo na China continental vai abrir de imediato — e já montam negócios com base nisso. Isso é pura ilusão. Persistem obstáculos regulatórios sérios, e superá-los levará tempo. O arcabouço futuro exigirá regras e limites claros — liberdade total não existe. Um exemplo: se stablecoins funcionarem fora da rede bancária, podem facilitar lavagem de dinheiro? Reguladores responsáveis vão impor requisitos rigorosos de compliance às stablecoins.
Também existem grandes equívocos — e até erros — sobre stablecoins, RWA e blockchain. Esse surto de interesse trouxe muita gente “surfando a onda” sem conhecimento — muito entusiasmo, pouca base técnica e juízos simplistas. Precisamos evidenciar essas lacunas.
Meng Yan: Hoje, o debate sobre stablecoins gira quase só em torno de narrativas financeiras, quase sem espaço para tecnologia. Será que o mercado acredita mesmo que blockchain amadureceu a ponto de ser ignorado? Quando falo com profissionais tradicionais de finanças, a maioria nunca usou produtos blockchain, não conhece DeFi, nunca perdeu uma chave privada ou sofreu um ataque, mas fala com enorme segurança sobre criar sistemas e aplicativos de stablecoin — como se blockchain já fosse ferramenta doméstica. Muitos entram nesse “ambiente restrito” com excesso de confiança, achando que o processo, os modelos e a regulação financeira podem ser “copiados” para o blockchain. Mas ignoram algo essencial: blockchain é um novo modelo computacional, com lógica operacional, limites, riscos e usuários muito distintos das finanças convencionais. Não percebem que a tecnologia blockchain segue imatura, com desafios sérios de experiência do usuário, segurança e conformidade. Os sistemas on-chain são repletos de riscos — gestão de chaves, bugs em contratos inteligentes, phishing, exploits em bridges, ataques a oracles, arbitragens regulatórias e fluxos ilícitos de fundos. Qualquer falha pode gerar crise sistêmica. Sem entender esses detalhes técnicos e a lógica real das operações on-chain, as melhores ideias e “ciclos” de ecossistema logo caem diante de reclamações, problemas de compliance ou ataques de segurança.
Mais que isso: blockchain evolui rapidamente. O que é líder hoje pode ser superado amanhã por novas arquiteturas — blockchains modulares, provas de conhecimento zero, abstração de contas, governança on-chain, restaking, gestão de MEV, e outros recursos mudam o setor todo o tempo. Até veteranos de década precisam estudar sempre, ou ficam para trás. Não dá para vencer essa disputa global sem domínio técnico contínuo.
Xiao Feng: Esse ponto é crucial. Vi uma enxurrada de opiniões distorcidas ou erradas sobre stablecoins e RWA, e a causa é sempre a distância da tecnologia subjacente. A ordem certa é tecnologia primeiro — blockchains, registros distribuídos, nova infraestrutura — depois tokens (inclusive stablecoins), depois RWA e DeFi.
Venho das finanças tradicionais — sou formado em economia, atuei no setor desde o início. Por isso, recomendo: aprendam tecnologia primeiro. Discutir stablecoin sem entender tecnologia é castelo de areia.
Entrei de cabeça no blockchain em 2013, e o que mais me fascinou foi a sintonia profunda entre a arquitetura do blockchain e a estrutura do sistema financeiro. Com o tempo, fiquei ainda mais convicto: é um setor liderado por tecnologia. Ter visão financeira ajuda, mas sem bagagem técnica você logo bate no teto. Por isso passei anos estudando fundamentos e tendências do blockchain.
Ainda sou estudante. Sempre digo aos fundadores: vocês não precisam ser programadores, mas precisam saber avaliar tecnologia. No DeFi, a disputa não é entre licenças ou marcas, e sim protocolos, arquitetura, eficiência sistêmica. Quem conseguir iterar em sistemas de contas, cross-chain, liquidação, privacidade, compliance on-chain e módulos de risco ganha mercado. Se você não acompanha a evolução técnica, sua estratégia é um beco sem saída, uma miragem. Esse é o real cenário concorrencial: tecnologia não é vantagem, é sobrevivência. Ignorar a lógica técnica é desperdiçar recursos. Nem o melhor plano resiste.
Meng Yan: Concordo plenamente. A essência das stablecoins é determinada por sua base técnica.
Xiao Feng: Na verdade, a natureza do dinheiro sempre foi definida pela tecnologia. O dinheiro passou por três revoluções. Primeiro, dinheiro-mercadoria — conchas, prata, ouro — com valor na escassez e propriedades físicas. Depois, dinheiro fiduciário, sustentado por decisão estatal e crédito soberano, vigente por séculos. Agora, surge o dinheiro impulsionado por tecnologia — Bitcoin e stablecoins — com valor protegido por criptografia, blockchain, carteiras digitais e contratos inteligentes.
Por isso, ao analisar stablecoins, é preciso relembrar suas origens. O avanço técnico do blockchain — o registro distribuído — abriu caminho para nova infraestrutura financeira, viabilizando stablecoins, RWA e tokenomics. Isso não depende de vontades individuais. Os EUA entenderam a tendência e legislaram para dar status legal ao cripto. O próximo ano será histórico, pois bancos, fundos (incluindo previdenciários) e investidores começarão a acessar cripto por meios oficiais.
Meng Yan: Exatamente por ser um movimento tão claro é que instituições tradicionais querem participar rapidamente. Só que, depois de participar de discussões sobre pagamentos com stablecoin e projetos RWA, vejo que quase ninguém entende o tamanho da disrupção que blockchain e stablecoins trarão à estrutura financeira. Muitas propostas ignoram totalmente as características do blockchain — são apenas “tecnologia nova no rótulo, modelo antigo por dentro”. Para muitos, stablecoin é só uma ferramenta, mas pessoas, processos e modelos não mudam — é só um ponto a mais de eficiência ou redução de custo.
Me lembra o início do e-commerce. No fim dos anos 1990, a internet parecia sem modelo de negócio, e e-commerce era o que todo mundo “entendia” — todos queriam entrar. Só que a maioria via a internet como canal mais eficiente. Bastava criar uma página de comércio eletrônico, montar um departamento e achar que abraçaram o e-commerce — sem mexer na estrutura, processos ou cultura. Só com a ascensão de Amazon e Taobao todos perceberam que era um novo paradigma, alterando consumo, estoques, logística, tráfego. Em menos de dez anos, o varejo tradicional foi transformado. Em 2013 e 2014, muita gente se arrependia de não ter entendido isso antes.
Hoje é igual. Stablecoins podem começar como ferramenta, mas são muito mais. Imagine bilhões de usuários com carteiras digitais: stablecoins não são só meio de pagamento. São a porta de entrada do sistema financeiro on-chain, com nova lógica econômica. Não há mais contas hierárquicas — o usuário entra por uma “carteira”, e não por conta; interage com contratos inteligentes, não via aprovação manual; as conexões são protocolos on-chain, não intermediários. Isso muda tudo — o poder de intermediação tradicional desaparece, e novos hubs surgem rápido. Economia de stablecoin não é “adaptação tecnológica”, mas construção de novo sistema capaz de substituir, absorver e reprogramar toda a indústria financeira. Essa é a verdadeira mudança.
Muitos subestimam isso. Alguns superestimam o impacto instantâneo da IA — demitiram equipes no ano passado, trocaram por IA, e logo tiveram de recontratar. Com stablecoins, ocorre o oposto — subestimam sua disrupção. Veem as stablecoins e pensam “vou melhorar um processo”, “vou adicionar stablecoin a um produto”, sem perceber que, integradas de verdade, processos, produtos e até funções podem sumir.
Xiao Feng: O grande problema segue sendo o entendimento raso da tecnologia blockchain e dos registros distribuídos. Os registros distribuídos mudam toda a infraestrutura do setor financeiro, mas muita gente não percebe. Pensam: “tanto faz como é o sistema por baixo, meu negócio continuará igual”. Só que blockchain não permite atualização suave — força uma revisão estrutural completa. Isso é disrupção real.
Para entender stablecoins, é fundamental analisar sua evolução. Elas nascem do registro distribuído — a terceira grande revolução da contabilidade.
A primeira foi a escrituração simples, como nas tabuletas de argila da Suméria — só registrava entradas e saídas.
No século XIII, nasceu na Itália a escrituração em partidas dobradas, anotando ativos, passivos, receitas e despesas. Por 700 anos, as mudanças foram pequenas, incrementais, sem revolução.
Isso só mudou em 2009, quando o Bitcoin trouxe a escrituração distribuída. Antes, cada instituição tinha seu próprio livro-caixa, de modo que cada transação internacional demandava conciliação — caro e lento. O registro distribuído, ao contrário, cria um livro público e único para todos, com transações diretas peer-to-peer, sem reconciliação. Essa é a revolução.
Depois do Bitcoin, surgiram as stablecoins em 2014. Com a evolução do registro distribuído, dois caminhos se abriram: desde 2009, ativos puramente “nativos digitais on-chain”, como Bitcoin e Ethereum; a partir de 2014, stablecoins como USDT iniciaram a onda de “gêmeos digitais”, tokenizando ativos reais, como dólares, no blockchain.
Com a aprovação dos ETFs de Bitcoin nos EUA e Hong Kong no ano passado, vimos um novo movimento: ativos nativos digitais migrando do on-chain para o off-chain. O ativo continua on-chain, mas a representação financeira (ações do ETF) é negociada fora do blockchain. Bitcoin está on-chain, ETF está off-chain — demonstrando a conversão entre ambos e a interação digital nativo/gêmeo.
Décadas de testes com registros distribuídos já comprovaram seu valor como infraestrutura social transformadora.
Desde janeiro de 2009, com o lançamento da mainnet do Bitcoin, o sistema de registro distribuído opera de forma contínua e estável há mais de 16 anos — um feito impressionante até do ponto de vista da engenharia. É uma Infraestrutura do Mercado Financeiro (FMI) já testada e pronta para o mundo real.
Alguém pode perguntar: “Por que importa FMI nova ou antiga? Não é tudo questão de regras, arquitetura e fiscalização para pagamentos, trading, liquidação e custódia? O que muda para meu negócio?”
A diferença é enorme. FMI baseada em registro distribuído é de “nova geração” porque rompe três regras centrais:
Primeiro, a descentralização elimina as CCPs, permitindo transação peer-to-peer direta.
Segundo, a liquidação bruta substitui o netting — cada movimentação é liquidada integralmente, uma a uma.
Terceiro, entrega contra pagamento (DvP) é garantida no protocolo por contratos inteligentes, assegurando transferência instantânea e simultânea dos ativos (tokens) e fundos (stablecoins), com liquidação final imediata.
Essa arquitetura reduz drasticamente a complexidade, corta custos e aumenta a eficiência de forma exponencial. Exemplos concretos: hoje, as transações intradiárias de NYSE/Nasdaq representam menos da metade do volume total de ações dos EUA. “Mercado pós-fechamento” e “mercados escuros” crescem, mesmo com ampliação do horário, as infraestruturas antigas (como o sistema T+2 dos EUA) obrigam NYSE a parar uma hora por dia para clearing — senão o sistema colapsa. Já as exchanges cripto, com FMI moderna, operam 7×24 sem parar. Isso demonstra o contraste entre o modelo tradicional e o modelo inovador.
Mas o impacto é ainda mais profundo. O blockchain não só melhora eficiência — ele redefine o acesso do usuário a serviços financeiros, altera fluxos de trabalho, redesenha relações de mercado e cadeias de valor, e transforma o sistema financeiro em todos os níveis. Economia de stablecoin não é “adaptação de elo antigo”: é construção de um novo sistema e rede desde o zero. Esse salto tornará certas instituições obsoletas e abrirá espaço para novas plataformas e aplicativos. Já vemos quatro transformações principais:
Primeira: Bitcoin é uma nova classe de ativos, indo além de famílias e empresas, chegando a reservas nacionais.
Segunda: stablecoins já têm reconhecimento legal como ferramenta revolucionária de pagamento e liquidação. Em 2024, o volume de transações on-chain superou US$ 16 trilhões. O e-commerce internacional chinês é um grande beneficiado, com mais compradores usando stablecoins e os vendedores batendo recordes de recebimento.
Terceira: DeFi virou ferramenta de investimento de alta eficiência. Até o fim de 2024, o valor total travado no DeFi chegou a US$ 190 bilhões. O empréstimo DeFi é robusto — o APR (Annual Percentage Rate) de empréstimos com USDT on-chain estabilizou em torno de 8%. O diferencial: empréstimo DeFi roda em contratos inteligentes, elimina intermediários, reduz custos de confiança e operação, multiplica o giro de capital e lança a eficiência das liquidações a outro patamar.
Quarta: a tokenização de ativos (RWA) é a nova tendência, conectando ativos tradicionais e físicos ao blockchain.
Se qualquer stablecoin ignorar essas mudanças, estará ultrapassada de saída ou sequer será viável.
Meng Yan: Quem chega agora ao debate das stablecoins, na prática, ainda não compreendeu toda a complexidade dos ecossistemas on-chain, DeFi, composabilidade, tokenomics ou do ambiente de segurança das blockchains públicas. Por isso, talvez não entenda o que acontece — para o bem ou para o mal — quando stablecoins e RWAs vão para o on-chain.
Xiao Feng: Todas essas questões retornam à tecnologia. O ponto é entender as oportunidades e riscos criados pela abertura e programabilidade das stablecoins — bem como de todos os tokens, inclusive os RWAs futuros.
Muitos ainda enxergam stablecoins e RWAs como “ilhas”: veem stablecoin só como um meio de pagamento eficiente e RWA como simples registro de ativos offline no blockchain. Se a tecnologia funciona e está em conformidade, acham que o negócio continua igual. Não percebem que esses ativos são programáveis. No blockchain, eles entram de imediato em um ecossistema automatizado, interligado e muito mais complexo.
No DeFi: assim que uma stablecoin está on-chain, ela acaba sendo usada em empréstimos, market making, restaking, farming, alavancagem e até em derivativos. Se não houver modelo de risco sólido, limites claros com protocolos DeFi ou estratégias contra ataques — flash loans e outros —, ela pode ser manipulada, perder valor ou provocar crises sistêmicas. Da mesma forma, RWAs como colaterais on-chain viram peças do “jogo financeiro”. Se dados forem opacos, valores indefinidos, titularidade discutível ou status regulatório incerto, esses ativos contaminam o ecossistema — e não aumentam a liquidez.
No tokenomics: stablecoins e RWAs não são neutras; interagem de modo complexo com utility, governance e incentive tokens. Nos últimos anos, surgiram estruturas de incentivo — mineração de liquidez, crescimento de usuários, recompensas de governança. Novatos ignoram como essas dinâmicas podem impulsionar ou desestabilizar todo o sistema em pouco tempo. Se stablecoins ou RWAs forem mal desenhados, qualquer perda de confiança pode romper a cadeia de valor e provocar prejuízos massivos.
No quesito segurança: ambiente on-chain é hostil. Yu Jian, da SlowMist, chama blockchains públicas de “bosque escuro”. Quem já sofreu um ataque sabe o perigo; a maioria nas finanças tradicionais nunca viveu isso. Alguns têm experiência em blockchain privada, mas ignoram o risco das públicas. Uma vez on-chain, stablecoins e RWAs enfrentam ataques ininterruptos — exploits, bugs, manipulação de oracles, phishing, extração de MEV e mais. Trata-se de uma prática recorrente no setor. Não basta auditar código — é preciso entender lógica de protocolo, relações sistêmicas e comportamento de usuários. Quando há falhas, não existe suporte, stop-loss ou rollback: só um design robusto e preventivo pode proteger. Cada falha pode custar milhões.
No compliance: a programabilidade de stablecoins e RWAs abre oportunidades e traz novos desafios regulatórios. O compliance tradicional é manual e centralizado, mas ativos e transações on-chain podem ocorrer globalmente em segundos — fora do alcance do compliance clássico. Pior: as exigências mudam de país para país, obrigando stablecoins e RWAs globais a navegar por regras incompatíveis. Mas é aí que está a inovação: a conformidade programável significa embutir exigências regulatórias no código — regras ex ante, verificação em tempo real e execução automática. Com regras claras e dados on-chain, o “software é a lei” passa a valer, viabilizando fluxos globais, seguros e regulados de stablecoins e RWAs. A regulação do futuro vai migrar da “mão visível” para regras implementadas no código.
Ou seja: quando stablecoins passam a integrar de fato o ecossistema on-chain, a complexidade é imensa — muito além de qualquer “caso de uso”. Tudo isso é apenas a ponta do iceberg. Novos desafios técnicos, de segurança, incentivos e compliance vão sempre surgir. É uma jornada contínua de aprendizado, teste e evolução para todo o setor.
Meng Yan: Acho que seu enfoque “tecnologia primeiro” em stablecoins e blockchain é o ponto central. Mas tenho uma preocupação: as stablecoins se espalham tão rápido que problemas inéditos surgirão — para os quais a teoria atual não basta. Só teoria não vai dar conta.
Xiao Feng: Concordo totalmente. Entendimento não nasce do nada, ainda mais em sistema complexo e dinâmico como blockchain, onde os problemas aparecem só na prática. Não dá para prever todas as variáveis — o aprendizado real é cíclico: “percepção—inovação—feedback—nova inovação”. Para empreendedores chineses, é uma oportunidade única: com know-how técnico e visão global, se nos organizarmos para agir juntos nessa nova era das stablecoins, de fato podemos ganhar relevância mundial no setor. O verdadeiro entendimento só nasce na prática e vira força produtiva para a evolução do novo sistema financeiro.
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